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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O FETICHE DA AVALIAÇÃO

Como se avalia um juiz? Pelo número de sentenças que profere durante um ano? E se elas forem injustas? Pela percentagens de sentenças justas? E quem determina a justiça dessas sentenças? Repetem-se todos os julgamentos?

Como se avalia um médico? Pelo número de consultas que dá? E se o doente sai de lá pior do que entrou? Pela percentagem de curas? E o que é uma cura? Pelo número de altas? Mas em que estado está o doente quando tem alta?

Como se avalia um advogado? Pela percentagem de vencimentos de causa que obtém? E como sabemos se ele escolheu ou não litigar essas causas de acordo com a sua viabilidade à partida?

Como se avalia um arquitecto: Pelos prémios que obteve? Pelas críticas nas revistas especializadas? pelo grau de satisfação dos utilizadores do edifício ao fim de dez anos? E como se determina esse grau de satisfação?

Como se avalia um professor: pelas notas que dá? Mas como sabemos se essas notas correspondem ou não ao que o aluno sabe? Pelo que o aluno sabe no fim do ciclo? Mas isto como é que se determina? Pela diferença entre o que o aluno sabe no fim do ciclo e o que ele sabia no princípio? Quem determina isto, e como?

O fetiche da avaliação veio do mundo empresarial (onde, de resto, já está a ser posto em causa). Aqui é fácil avaliar. Se o que é preciso fabricar muitos sabonetes, quem fabrica muitos é bom e quem fabrica poucos é mau. Se é preciso vendê-los, bom é quem vende muitos. Se é preciso controlar a sua qualidade, quem consegue a menor percentagem de defeitos é bom profissional, quem não a consegue é mau.

Mas para o juiz, para o médico, para o advogado, para o arquitecto, para o professor, o paradigma da avaliação não funciona: o que funciona é o paradigma da auto-regulação. É por isso que estas profissões, excepto duas, têm Ordens: os juízes porque não precisam: a sua auto-regulação é feita por outros mecanismos; os professores porque os sucessivos governos e os sindicatos nunca o permitiram - aqueles com medo de terem que enfrentar mais uma «corporação» (leia-se: uma sociedade civil mais forte). Estes, com medo da concorrência.

A falta duma Ordem dos Professores é uma tragédia que hoje estamos todos a pagar: professores, alunos, pais, empresas e até, desde há pouco, os próprios sindicatos que se opuseram a ela. O País inteiro. O próprio Governo começará, em breve, a sofrer os seus efeitos. Mas dado o tempo decorrido entre a causa e a consequência, poucos políticos se darão conta da origem dos seus males.

5 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito do texto apesar de não estar minimamente convencida da necessidade de uma ordem de professores. Mas, na mesma, parabéns :-)
M.

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras da moriae. Ainda não me convenceu da bondade da ordem.

ablogando disse...

O problema principal que se liga à constituição de uma Ordem é, quanto a mim e uma vez mais, o dos critérios com que ela é criada e, obviamente, os que respeitam à admissão de novos membros. Quando se trata de docência, então...

Anónimo disse...

É bom ver que não sou o único que se apercebe de miséria que é a representação dos professores e a nulidade que é a sua voz.

Anónimo disse...

«Faço minhas as palavras da moriae. Ainda não me convenceu da bondade da ordem.»

Na minha opinião, é mais óbvio do que possa parecer.

Os sindicatos geralmente gostam de apelar à "Educação", estamos a fazer isto pela Educação. Mas não estão, nem podem estar. Um sindicato, por muito que eles não queiram, estão limitados às questões laborais. Até podem participar noutro tipo de reuniões. Mas só em questões laborais é que têm assento garantido e, mais importante, voto na matéria.

Pergunte-se, por exemplo, porque é que esta organização que tem por única ocupação a defesa dos direitos laborais dos professores, nunca se preocupou com a questão da avaliação, nomeadamente com a progressão na carreira por antiguidade, alheado ao mérito. Não há resposta, a não ser a da mais pura incompetência e, porventura, o interesse, muito estranho, na manutenção do status quo. O professor individual não tem voz. Os professores não têm voz. Meia dúzia de sindicalistas profissionais têm voz e dizem o que lhes apetece.

Veja, ainda, por exemplo, as razões desta manifestação. Acredita mesmo que estas pessoas estão estão lá por causa da avaliação? Ou não será antes, em grande medida, pelas políticas educativas? A avaliação é uma política educativa? A política educativa é uma questão laboral?

Existe muita inteligência e astúcia política por parte dos sindicatos, na manipulação desta massa que são os professores. Muitos acreditarão que estão a protestar contra as políticas educativas, acredito que sim. Mas é inconsequente, pois o sindicato só poderá discutir as questões laborais. No entanto, o que passa para a comunicação social; o que os sindicatos se esforçam por passar; o que está nos panfletos e cartazes, é, fundamentalmente, a avaliação.

Os professores não têm voto na matéria quanto às políticas educativas; quanto ao "eduquês", porque não há ninguém que fale por eles. Nunca houve, sem uma ordem ou sem uma organização equivalente, dificilmente haverá..